Arte é expressão da alma, uma linguagem.

Uma forma de dar vazão a mim mesmo, aos meus sentimentos, pensamentos, anseios. Um jeito de transbordar minha forma de ver o mundo e de compartilhar o que eu valorizo, o que eu quero comunicar, com o objetivo de agregar ao outro, de transformá-lo. No meu caso, quero transmitir sobre o belo, a natureza, a madeira, o poder de transformação do homem…

A Arte não se ocupa do útil. Não se ocupa da inovação pura e simples. Ela traz sim, muitas vezes, a inovação, mas não como foco central, do “inovar por inovar”, só para fazer algo diferente. Na arte, tem que ser um inovar que carregue ‘algo mais’: um tanto de alma e coração.

A Arte não leva em consideração o viável, as tendências ou o vendável. O passível de ter sucesso ou o possível de ser produzido. A arte não “pensa” na indústria, em como as máquinas vão viabilizá-la.

Na minha vivência, ela simplesmente nasce dentro de mim, e é lapidada no campo das ideias. Mas as soluções pra concretizá-la são pensadas depois da inspiração já ter surgido e eu já ter me apaixonado. Aí, não tem mais jeito: só me resta quebrar a cabeça e ver como tornar real o que sonhei.
Pra mim, a Arte leva em conta, mais do que tudo, o interno, o eu, a verdade, o íntimo. Ela parte de uma conversa comigo mesmo, com minhas experiências de vida, inspirada talvez pelo divino. E eu acho que, por ser assim tão verdadeira e autêntica, é que ela se conecta com outros ‘EUs’, outras pessoas.
Ao se viver a arte, o artista tem um propósito consigo mesmo, uma necessidade de, antes de mais nada, se encantar e se emocionar com o que faz. Mas guarda em si uma missão íntima de encantar e emocionar também o outro, de contagiá-lo, extasiá-lo. Dessa forma, a Arte não tem uma razão de existir, um propósito específico, mas, para os artistas, é ela quem nos define.

Sempre tive adoração pelas árvores.  Pela sua diversidade, grandiosidade, robustez, utilidade, beleza.
Perto delas me sinto pequeno, como se eu me curvasse perante sua magnitude.
Sou aquela pessoa que cheira as madeiras, que acaricia os troncos, que aprecia as texturas.

E quando vou fazer uma peça, eu escolho pessoalmente cada parte da madeira, para cada parte do móvel. Avalio a coloração, os veios, os desenhos naturais e como cada aspecto pode ser melhor valorizado na peça que estou produzindo.

Eu reverencio a madeira – ela é o centro da minha produção.
E é uma grande realização, uma enorme satisfação, uma emoção incomparável quando a peça nasce.

O Homem jamais deverá esquecer que uma de suas mais profundas dívidas é para com as Árvores.

Sinto que minha arte é uma forma de mostrar para as pessoas a beleza da natureza e da madeira.
Uma gratidão às árvores centenárias ao transformá-las em móveis lindos e duráveis.

Um agradecimento também à riquíssima natureza do nosso belo Brasil, que nos presenteia com uma variedade incrível de madeiras.

Uma forma de dar visibilidade ao que as mãos humanas são capazes de fazer, e que muitas vezes não são replicáveis pelas máquinas.
O poder, a capacidade do homem.
Reforçar o papel do belo em nossas vidas.

Que o belo é o que nos comove, nos toca lá dentro do peito, nos emociona. Algo inexplicável, subjetivo.
E que não necessariamente temos que gostar de tudo igual. Não temos que seguir modismos ou o que é ditado pelo externo. A produção por máquinas, com tecnologia e em escala tem, claro, suas vantagens. Mas por outro lado, pode acarretar um grande empobrecimento da beleza, porque as criações se limitam à capacidade das máquinas, ao que é mais fácil, reto, minimalista e, com isso, descartam-se vários aspectos que contribuem para ela, como os detalhes ou peculiaridades que o ‘fazer com as mãos’ viabiliza.
É importante abrir um diálogo interno – o que VOCÊ REALMENTE gosta? O que é belo pra VOCÊ? O que te traz bem-estar?

A casa deveria ser o principal refúgio de uma pessoa, de uma família. O seu porto seguro, um ambiente de aconchego, de acolhimento.
Um espaço admirável, que te faz sentir orgulhoso, que traduz sua personalidade, sua identidade, seus valores.
Não uma casa que pode ser de qualquer um. Mas a SUA casa, que se molda perfeitamente a você.
Aquele lugar que você gosta de olhar, sentir, admirar, compartilhar.
Tem que ser bonito aos seus olhos. A gente gosta de estar em um local bonito.
Neste sentido, a beleza traz bem estar.

Faço móveis, luminárias artísticas e quadros pensando nisso – que sejam produções originais, especiais, que te despertem o desejo de contemplação.

Contemplar… dedicamos muito pouco tempo para isso nas atuais vidas corridas.
Que bom quando podemos contemplar o nascer ou o pôr do sol, crianças brincando, a pessoa amada dormindo, amigos queridos gargalhando, o mar, o verde das árvores, flores maravilhosas, as cores das borboletas, os pássaros voando, … a vida, … enfim, tudo o que nos parece belo.
O poder da contemplação tem uma relação muito próxima com o sentimento de gratidão. É uma conquista do ser humano.

Minhas inspirações vêm sempre à noite, na madrugada… e depois disso, quase como uma criança que ganhará seu presente desejado, o sono me abandona.
Mergulho pra dentro, em um exercício mental e, ao mesmo tempo, emocional, atento para o que me toca, o que me mobiliza, me emociona.
E então, há um momento em que eu fecho a ideia na minha cabeça, como se desse um clique dentro de mim e eu falo “é isso!”. E a peça vira então um objeto sonhado.

Eu costumo dizer que primeiro eu me apaixono pela criação, pela peça. Tem que ser algo que EU ache maravilhoso, que me emocione. É como se fosse uma poesia que ganha forma através do design e que ganha concretude, matéria quando feita na madeira. Se não for assim, não dou continuidade.
Só então eu vejo como viabilizar a peça, como aquilo que eu sonhei poderá ser produzido.
Aí é que começam os desafios, porque eu TENHO que achar as soluções, uma vez que o sonho já está dado, então, ele vira uma meta. E não sossego enquanto não consigo.
Sempre me desafio, porque eu coloco a marcenaria, meus conhecimentos, a técnica, à serviço da inspiração, da ideia, do que me move internamente. Nunca o contrário.